ENTREVISTA COM UMA JOVEM DA SIBÉRIA [1\2]
(Segunda entrevista do nosso Boletim Comunista Internacional)
Estamos entrevistando trabalhadores para conhecer suas opiniões e condições de trabalho. Nosso objetivo é dar a eles a chance de ouvir uns aos outros e olhar para si mesmos através das óticas da sua posição de classe no capitalismo.
Recentemente, entrevistamos uma jovem de 22 anos da Rússia que trabalha como engenheira de design em uma pequena empresa de 10 pessoas. A equipe é composta por dois designers, um operador de impressão, um técnico de equipamentos de laser, dois instaladores, dois gerentes, um contador e um chefe que muitas vezes tem de participar em pé de igualdade com o restante do pessoal.
Até recentemente, ela ganhava 30.000 rublos, o equivalente a R$ 1.717 (reais) ou US$ 324 (dólares) por seu trabalho e, neste mês, seu salário aumentou para 35.000 rublos (R$ 2.003 ou US$ 378). Ela tem que trabalhar das 8h às 17h, os sábados e domingos são dias de folga. Ela tem uma pausa de meia hora para o almoço no trabalho. Sua equipe é amigável e ela não notou nenhum discurso de ódio entre os colegas. Entre as desvantagens claras, ela observa que não há funcionários suficientes e que muitas vezes tem de trabalhar mais exaustiva, além de realizar tarefas que não fazem parte das suas atribuições.
Quanto vale um salário de 30.000 rublos (R$ 1.717 ou US$ 324) em uma cidade metropolitana russa? Para alugar um apartamento simples na sua cidade, é necessário gastar por volta de 18.000 a 25.000 rublos (R$ 1.030-1.431 ou US$ 194-270), e para compras são necessários mais de 10.000 rublos (R$ 572 ou US$ 108). Obviamente, com essa renda, ela nunca vai conseguir economizar para comprar sua casa própria.
Atualmente, ela mora com o pai e o irmão em um apartamento que herdou da avó. Nos países pós-soviéticos, muitos trabalhadores têm moradias remanescentes da era da URSS, o que permite que os patrões paguem salários mais baixos. Ela gasta cerca de 10.000 rublos (R$ 572 ou US$ 108) com serviços públicos, 4.000 rublos (R$ 229 ou US$ 43) com alimentação e 1.000 rublos (R$ 57 ou US$ 11) com transporte. Seu pai compra a maior parte dos mantimentos, e ela costuma ir para o trabalho a pé. Levando em conta as despesas adicionais com roupas, produtos de beleza, internet e assim por diante, ela acaba tendo o salário todo comprometido.
Quando perguntamos a ela sobre suas opiniões políticas, ela disse:
“Sou a favor dos pontos de vista em que todos são iguais. Precisamos de recursos, porque os apartamentos custam muito dinheiro e muitas pessoas simplesmente não podem pagar por eles. Precisamos oferecer moradia para famílias de baixa renda e famílias grandes. Também é importante melhorar as condições de emprego, pois muitas pessoas não conseguem encontrar um emprego. Os salários também são desproporcionais: qual é o sentido de artistas pop ganharem milhões se uma simples faxineira ganha apenas 20.000 rublos (R$ 1144,50) e não tem o suficiente para viver? É necessário definir padrões de pagamento que cubram as necessidades básicas das pessoas.”
Ela também tem uma visão muito negativa em relação às guerras:
“Só porque duas pessoas não chegam a um acordo e querem conquistar mais terras e recursos, muitas pessoas que estão envolvidas nesse conflito sofrem. Sou totalmente contra as guerras.”
Existe certa verdade nesse sentimento, já que os chefes de Estado geralmente têm poder exclusivo para tomar decisões políticas. No entanto, por trás da política do Estado burguês estão os interesses dos grandes capitalistas que fazem lobby com políticos e partidos políticos inteiros. Ela mesma admite isso, observando que
“as pessoas votam, é claro, mas quem tiver investido mais dinheiro vence as eleições”. Os interesses desses capitalistas são determinados pela sua posição econômica, pela riqueza que possuem e pelas perspectivas de lucro que se apresentam para eles. Então, para eliminar as guerras, é necessário destruir o capitalismo, e não apenas manter um político fora do poder.
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